| 07/10/2008 14h42min
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta terça-feira, a uma platéia de cerca de três mil trabalhadores metalúrgicos em Angra dos Reis, que a crise econômica mundial não chega ao Brasil e afirmou que não haverá um pacote econômico no país.
— Esta é a primeira vez que um governo não precisa explicar ao povo que a crise é internacional e não local. Todos estão cansados de ouvir isso. Mas muitos acham que é prepotência minha dizer que esta crise não chega ao Brasil. Digo e insisto: se chegar, chega mais leve, mesmo que haja quem esteja torcendo para ela chegar logo e causar estragos — afirmou o presidente, em cima de um palanque montado em meio ao estaleiro Brasfels, onde foi batizada a plataforma P-51 da Petrobras.
— Todo mundo sabe que o que está acontecendo se deve à especulação financeira que começou nos Estados Unidos. Eles brincaram com a economia mundial e, na hora que a porca entorta o rabo, sobra para nós — disse Lula, para lembrar em
seguida que "desta vez será
diferente", porque o país fez como "na história da cigarra e da formiga: enquanto eles cantavam, a gente trabalhava".
A citação foi feita com relação ao fato de o Brasil ter se transformado em credor externo (com reservas superiores a sua dívida internacional).
— A crise americana é muito profunda. talvez seja a maior crise nos últimos 50 anos. Só teve igual a esta em 1929. E ela está chegando na Europa, porque os bancos europeus participaram do cassino imobiliário dos Estados Unidos — disse o presidente, lembrando que nas crises do México, Ásia e Rússia, os "rombos" da economia mundial foram bem menores, em torno de US$ 50 bilhões, e o Brasil "quase quebra".
Pacote econômico
Lula foi bastante enfático ao afirmar que a atual crise econômica mundial não deverá motivar a formação de um pacote econômico no país.
— Não haverá nenhum pacote econômico. Todas as vezes em que houve um
pacote econômico no Brasil, o trabalhador é que foi prejudicado.
O
presidente ressaltou que foram tomadas medidas econômicas de apoio aos bancos pequenos e aos exportadores.
— Cada medida será tomada conforme ela for exigida no dia-a-dia.
Lula acusou os Estados Unidos de terem feito a "farra do boi" com o dinheiro público.
— O trabalhador sabe que se fizer a farra do boi com seu salário, quem vai pagar é o seu filho. E a gente não deve governar um país, mas cuidar de um país, como se cuida de uma família, sabendo que quem vai sofrer as conseqüências são os nossos filhos — disse.
Ele destacou que espera que o "pacote americano ajude a resolver o problema deles".
— Mas pelo amor de Deus, agora que deixamos de comer o pão que o diabo amassou e começamos a comer um pãozinho com mortadela, eles que não venham querer se socializar com a gente. Este tipo de socialismo não queremos. Queremos socializar a bonança e não a miséria.
Ainda falando sobre a crise, o
presidente defendeu à platéia que é preciso que "ninguém se abale com a
crise".
— A crise gera especulação, gera desconfiança e depois cidadão fala que não vai gastar seu dinheiro e vai guardar. Peço a vocês que não façam isso, e continuem fazendo a mesma coisa que estavam fazendo.
FMI
Lula também cobrou uma maior atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta crise. Ele lembrou que "quando era o Brasil ou a Argentina que apresentava uma crise, o FMI sempre dava palpite e ditava o que fazer ou não fazer".
— Cadê o FMI agora? — indagou o presidente.
Para ele, tanto os Estados Unidos quanto a Europa "fingiram que não têm crise".
— Eles são iguais àquelas pessoas que não gostam de pobre. Vão para a reunião do G8, querem falar da Amazônia, mas não falam de crise.
GRÁFICO: entenda a crise global
Agência Estado
Lula discursou para uma platéia de cerca de três mil trabalhadores metalúrgicos da Petrobras
Foto:
Fábio Motta/AE
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